domingo, 31 de maio de 2015

faces do crepúsculo




noite


alto e cansado ele passa
foi maior mas decaiu
aliás sempre foi pequeno
e agora também é
triste e grisalho





espera


o cheiro na chuva
lembra flores cansadas
banho demorado
excesso de perfume
que sufoca qualquer conversa





estrela


ela volta
sempre na hora
em que o sol se despede
e a lua agradece








quarto




a manhã desdobra folhas
entre ruídos amassados
e palpitações da luz
objetos indistintos pulsam

na penumbra do que é
sonho mas já acordou
e avança adivinhando
a imprevista aurora

e escorrega do corpo
insônia ou pesadelo
ou simples delírio porém

a ternura da pele
devolve a lucidez
que havia se exilado







quinta-feira, 28 de maio de 2015

alcunha : transgressões e transcendência




consistência de brisa
pérola que se evapora
na claridade do silêncio
somente a palavra salva

sobre fragmentos de frase
sujeito do que foi
predicado do que é
somente o verbo voa

construção do soneto
obra livre e assimétrica
alcunha : transgressões e transcendência

enquanto puristas sem rumo
caçam métrica e rima       a poesia
selvagem e nua dá risadas






farsa completa : brasília 2015




pisando no silêncio
palavras que não crescem
idéias sujam o chão
onde a alma se reflete

a solidão no planalto
é pessoal e pública :
aqui quem manda sou
(antes era assim também)

mas a morte não sossega
essa implacável senhora
e fica esperando na porta

perto da farsa completa
(escárnio e infâmia) e da imensa
lata de lixo da história






quarta-feira, 6 de maio de 2015

luz que vive silenciosa






teu sono me abraça
sonhos que me sussurram
paisagens no quarto

viagens sobre a cama
lençóis que viram asas
esta manhã sorrindo

dentro da noite escura

 luz que vive silenciosa







sonosemente






veios de inverno
nos canais de outono :
sonosemente







recicle






não
       encalhe
acolha
            recicle
seu
      passado