Aqui você tropeça no poeta e em suas poesias!!!Venha,veja,comente,aprecie,critique e usufrua este encontro!!
sábado, 28 de setembro de 2013
outro
no meu corpo
há um corpo
que não é meu
mas sou eu mesmo
como a luz é sempre
a luz para os outros
este corpo
é a sombra do meu corpo
e eu sou o meu próprio sonho
poesia e palavras
a poesia
não precisa de palavras
as palavras é que precisam
da poesia que se escreve nelas
a poesia é a palavra que não precisa ser escrita
uma sala no escuro
uma sala no escuro
fica iluminada pelo silencio
a vida não está
nem dentro nem fora
uma sala no escuro
respira suas formas
de nudez sem as vozes
enquanto fogo se revela
uma sala no escuro
tem cadeiras que abraçam
e paredes que se movem
uma sala no escuro
da janela prepara
o salto mas não salta
sanctum
o último ruído
caiu no chão
ficaram seus fractais
seus inteiros pedaços
estou no silencio
que está em mim
silencio na pele
o silencio
vai ficando na pele
minha pele vai ficando silencio
cada vez mais leve
cada vez mais doce
eu vou deixando de ser
o meu centro
e dentro de mim
vou descobrindo os outros
parede cidade poema
uma parede se faz de gestos e vozes
cada tijolo de pele
cada janela de corpos
uma cidade se faz da solidão das flores
rua de sonhos avenida
de pedras que dormem
e o poema se faz da ausência
da felicidade triste de cada aurora
e da morte que nasce em cada homem
a música das palavras
as palavras fogem pela boca
e no papel onde mergulham
o silencio é a qualidade que perdem
e perdem seu brilho próprio
(falando pouco e ouvindo
com os olhos e com o coração aberto
fazemos as palavras serem gestos
e serem voo e brisa e brilharem)
as palavras se aderem se entretecem
e nessa malha espessa impedem
que a claridade passe :
não brilham nem deixam os outros brilharem
e então o amor com a leveza dos seus dedos
desata os nós e recompõe a música das palavras
o amor nos cartazes
dos muitos gritos
desta cidade vamos
rasgar a seda
dos disfarces e ouvir
o amor nos cartazes
a primeira namorada
a primeira namorada é a última noticia
o tempo é uma nodoa na roupa uma flor murcha
são as crianças que inventam o futuro
brincando de cinderela e esconde-esconde
meu nome não cabe no meu corpo
não sei o meu nome
amanhece na cama arrumada
e os lençóis estão limpos
a vida está limpa
mas os meus cabelos que caem
junto com a poeira no ar os pensamentos e as palavras
impedem que a luz nasça a partir do chão
a primeira namorada sai cavalgando a aurora
e eu fico sozinho com meus sonhos
e com o piano que eu não toco desde menino
escuros no escuro
teus olhos brincam
escuros no escuro
(tão claramente)
e neles amanhece
meu olhar de criança
18 de maio de 1985 , Manicômio Judiciário do Estado da Bahia
A melancia é alegre no prato de metal.O dia,o vento frio,o hospital doente.
Leva meu coração aonde houver conflito,aonde faltar o encontro,a palavra silenciosa e aquele sorriso que acalenta o sonho mais frágil e mais bonito. Para que a vida seja esta confiança na luz que nem sempre é visível ,esta entrega ao que não murchou de velhice e é desconhecido e novo - totalmente em unidade com todos os efeitos e com todas as causas.
Os talheres,depois de lavados,brilham.
O trabalho acontece sem esforço e , quando é feito com amor,é fácil,muito fácil;apesar do cansaço e dos distúrbios que se esgotam na superfície.
piano cítara flauta doce
seu corpo é uma viagem de luz
branco decompõe todas as cores
e é tecido de vários sons :
piano cítara flauta doce
é nele que me descubro
em sua pele se escondem
cada uma das minhas identidades
e amo o cheiro o gosto o contato
formas de meu silencio
onde escrevo ternuras
e me inscrevo náufrago
a desfazer solidão e retratos
até reencontrar meu olhar
dentro dos seus olhos
terça-feira, 24 de setembro de 2013
velhas sementes
esta saudade
que os galhos encobrem
nuvens escondem
no céu a primavera
somos velhas sementes
oração maniqueísta
no escuro sem armas
suporto minha própria sombra
aceito minha condição de filho pródigo
a maldade que vive em mim
caminha comigo de volta
lado a lado com o anjo
sob a proteção do cristo
até a casa do pai
P.S. :O Maniqueísmo vem sendo deturpado desde o século 18,principalmente nos dois últimos(19 e 20),sob a égide do materialismo estreito e do racionalismo reducionista.A Sublime Doutrina desenvolvida nos primeiros séculos cristãos pelo Grande Iniciado Maniqueu(cuja nova encarnação está bem próxima) não é dualista e não vê o Mal com autonomia própria e visa a Redenção do Mal(os Filhos Pródigos) e se resume na máxima:"Ame bem o Mal".A meu ver é a versão mais nobre do Cristinianismo Primitivo,reencarnacionista,esotérico e diserarquizado.
segunda-feira, 23 de setembro de 2013
água menos triste
porque me pedes
água menos triste
delicada realidade
seda e orvalho
porque me pedes
não o presente a presença
coração lúcido
alma desarmada
porque me pedes
o que também preciso
verdade que ama
amor com asas
fragilidade tão forte
nudez das palavras
domingo, 22 de setembro de 2013
corpo da luz que dorme
redes de sonhar
filtram ternura pulsam
(entre olhares
à margem dos gestos) no
corpo da luz que dorme
sexta-feira, 20 de setembro de 2013
primeiro soneto
entre deixe no cabide
sua tristeza suas verdades
a cama é larga
e eu não mordo dizem
que sou manso e me acomodo
no seu sorriso quando
você olha para o lado
e vai às nuvens e meus braços
são frágeis como berço
(você sonhou que eu era seu filho
e não disse que me amava)
ontem eu que não fumo
senti falta de um cigarro:
seus lábios assim de tarde
nascente que nasce
água na água
azul que aprofunda
rio do orvalho
oceano da chuva
nascente que nasce
anjo escada
anjo escada
agora se confundem
já não brigo mais
com pernas e palavras
apenas subo caindo
Inspirado no filme "Alucinações do Passado"(1990,originalmente "Jacob's Ladder" ) que se embasa no relato bíblico da luta de Jacó com o Anjo para subir a Escada que leva até o céu.
quinta-feira, 19 de setembro de 2013
citações
o nome da rosa
emperra o sorriso
gritos sussurros homens
que odeiam as mulheres
mulheres
que correm com os lobos
por quem os sinos dobram
pois é suave a noite
preciosa
entre dois amores
em busca do tempo perdido
onde a voz do silencio
é o oceano
no fim do caminho
no fluxo dos sonhos
de akira kurosawa
luzes vorazes nuvens tatuadas
luzes vorazes
fazem barulho na rua
e reverbera
o silencio áspero
sob nuvens tatuadas
claro trajeto da palavra
cheiros na pele
atravessam a alma:
lembranças leves
saudade forte claro
trajeto da palavra
a mesma face
para fora da vida
para dentro da morte
fulgura
a mesma face
daquele que fala
a primeira palavra
daquele que vive
o último silencio
daquele que desenha
o tempo
e sustenta a eternidade
ahimsa
o lugar da raiva
é ao lado do silencio :
a natureza do fogo
e a natureza da pedra
germinando a ação precisa
sem desvio
sem alarde
e sem violência
para redimir o erro
transbordando justiça
sono
eles falam
sim
eles falam
mas as palavras são outras
ouro sem máteria
éter
luz pura
sim
os anjos falam
mas
o espirito
em quase todos nós
ainda dorme
domingo, 15 de setembro de 2013
aura e autocritica
melhor as faces
que não distorcem a luz :
grito e raiva
estremecem a aura
de quem ama e cura
sábado, 14 de setembro de 2013
pés no riacho
"...eu pus os meus pés no riacho
e acho que nunca os tirei
sol ainda brilha na estrada
que eu nunca passei..."
Força Estranha-Caetano Veloso
as ruas podem ser
as mesmas e também são
outras agora
mudamos tudo todos
sendo sempre quem somos
e acho que nunca os tirei
sol ainda brilha na estrada
que eu nunca passei..."
Força Estranha-Caetano Veloso
as ruas podem ser
as mesmas e também são
outras agora
mudamos tudo todos
sendo sempre quem somos
alfabeto da amorosa resposta
as vozes se movem
no coração do silencio
que nunca se cala
e seres e coisas que não falam
falam
na linguagem viva da procura
e da espera
no alfabeto da amorosa
resposta
a toda e qualquer pergunta
novo sabor de pizza
torço à distância e sem jeito
que a justiça enxergue
e o supremo não se apequene
para que o mensalão não se torne
o mais novo sabor de pizza
a sair quentinha
do forno das excelentíssimas vaidades
e dos vendidos ( com e sem toga) de sempre
quarta-feira, 11 de setembro de 2013
alma multiplicada
corpo no corpo
(não só os dois casulos
casal de cascas)
coração no coração
alma multiplicada
espíritos ausentes corações mutilados
no homem
o inconsequente
filhinho da mamãe
na mulher
a adolescente
tardia e tonta
na aparência
dois adultos
classe média
mais de quarenta anos
na prática
duas crianças
sofrem
o pior dos encontros
solidão a dois
com seus respectivos
espíritos ausentes
corações mutilados
palavras secas ásperas
um rio
suas lágrimas
chove dentro da alma
mas por fora
nesses dias
palavras secas
ásperas
terça-feira, 10 de setembro de 2013
na alma gran finale
flauta na face
sinfonia dos olhares
a vida ressoa
na pele nas palavras
na alma gran finale
segunda-feira, 9 de setembro de 2013
sólido ou solto no ar
o sonho pode ser
sólido
ou pode ficar solto
no ar
depende da coragem
depende do trapézio
depende da âncora:
nascem e vivem naqueles
que acreditam
em lutar
sendo a grande vitória
e no amor
a maior conquista
domingo, 8 de setembro de 2013
rede e renda nas ruas
lentas velozes
as conversas no parque
por onde passam
deixam pedaços formam
rede e renda nas ruas
sábado, 7 de setembro de 2013
entre silêncios milhares de imagens
minimo traço
pouquíssimas palavras
versos medidos
tecem entre silêncios
milhares de imagens
substâncias da saudade
das diversas flores
murchas
além das pétalas
e das lembranças secas
restam apenas os óleos
etéricos o perfume
substâncias da saudade
sementes do afeto
que jamais fenece
seu sono sua solidão siamesa
o gato na janela
sonha o voo sem grades
a queda para o alto
o peso da leveza
o gato na janela
é quase peixe no aquário
parado em si mesmo pousa
sua inercia sua preguiça
no batente na rede de segurança
o aeroporto no horizonte
ensina fuga e horários
ao gato na janela
mas a viagem dele é bem outra:
seu sono sua solidão siamesa
sexta-feira, 6 de setembro de 2013
opacas transparente
olhares roçam
a superfície da voz
nos lados da luz
palavras são opacas
silencio transparente
força e fragilidade
camadas de silencio
repousam nas almofadas
minha raiva
sua mágoa
força
e fragilidade
um ausência luminosa
dilata essa conversa :
os dois olhares se calam
e o coração agradece
lucidez madura
escuto canções
povoando o silencio
um sabor doce
crescendo nas palavras
sua lucidez madura
invisíveis olhares
caminho que caminha
onde nos acolhem
invisíveis olhares
na incógnita
insólita
solidão do imenso
afeto
terça-feira, 3 de setembro de 2013
esperar estrelas na rua
esperar estrelas na rua
esperar que a chuva noturna passe
esperar que a aurora se erga
inteira das planícies da distância
esperar que os carros se calem
esperar que as casas adormeçam
esperar que a solidão caminhe
em silencio total pela rua
esperar que a própria rua
se desfaça em sono e saudade
esperar que não venham a neblina
o frio as folhas a brisa pontiaguda
esperar que a luz imóvel faça
as sombras e os medos dançarem
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