domingo, 1 de junho de 2014

grupoema








hoje sou simplesmente espelho
superfície de água
e tento capturar os rostos
sorrisos        gestos        olhares
que apenas reflito sem compartilhar

primeiro foi a  lua
de um sorriso branco amigo
de suave malícia e gestos
de caminhar ao lado ternamente
adenauer

depois foi aquele menino
já tão sofrido        por isso mesmo
velho
quase irmão
ou filho
de quem falamos       reclamamos
discutimos       criticamos       ensinamos
e aprendemos tanto
naldo

e o outro tímido
esquivo
de sorriso triste
e olhar bonito
amanhecendo em poesia
de protesto e carícia
amarildo

e o escorpião venenoso doce
sempre ativo e pronto
para se ferir       ferindo
tão orgulhoso      frágil
tão amoroso quanto o menino
que não deixaram que ele fosse
péricles

e aquele de quem sou o oposto
pois é o sentido e a certeza
do próximo passo ser
o porto seguro que lhe falta
uma ternura justa e versos
palavras de faca para o que não é
claridade e símbolo
nestor

eis que que chega um trem
que não corre nos trilhos      nem paralelo
à cidade e à selva        invade
territórios       florestas      ruas       casas
e transforma a vida
em sentimento vivo       quase
um deus menino
nilo
 
ela é como uma casa
se arrumando       como um convite 
dito com os olhos       sorrindo
com outras palavras     
meiga         mãe       pantera
meiry

dirão com que fosse o outro aquele ausente
sério       de muitas línguas     pintor
de vozes     silêncios     enigma      imagens
e pulsações novas da palavra
em coração aberto         mas escondido
paulo

ele é o que o momento traz
à praia dos seus gestos       diferente
de sempre       e igual
ao que vai ser ontem       ou tendo sido
amanhã       não pode deixar de ser
valente júnior

e quem me foi apresentada antes
de ver quão frágil é
seu rosto sob o sorriso e a pulsão
do seu sexo disposto a dominar e ferir
para não ser mais sacrificada no plural
suely

e hoje onde estou
aqui longe daqueles tão perto
que escreveram seus nomes em mim
no meu corpo
exceto um poema triste
que fizemos       nem sabíamos
e vinha assinado saudade

como então reencontrá-los
se foi em mim que se perderam
e nunca estarão mortos
nesse amor com que os tenho
e por onde escapam
da minha mão carinhosa








                                                              salvador,1985

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário é sempre benvindo!